O debate sobre se as doenças mentais são meras disfunções biológicas ou caminhos para estados alterados de consciência tem ganhado novas perspectivas. Essa visão alternativa sugere que sintomas como alucinações e delírios podem ser expressões simbólicas de traumas, tentativas de lidar com experiências avassaladoras, ou até mesmo o início de uma crise espiritual ou um “avanço” na consciência. Em culturas antigas, essas experiências eram frequentemente interpretadas como uma conexão com o mundo espiritual, e os indivíduos que as vivenciavam eram vistos como mensageiros ou xamãs.

Psicólogos como Ronald D. Laing e Stanislav Grof veem a psicose não como um “colapso”, mas como um potencial “avanço”. Grof, em particular, considera esses estados como “crises de transformação” ou “aberturas espirituais” que, com o apoio adequado, podem levar a um crescimento profundo. A ideia é que uma “inteligência interna de cura” guia o processo, trazendo à tona as emoções e memórias necessárias para a integração.
A Diferença entre Místicos e Psicóticos
Embora místicos e psicóticos possam acessar reinos de experiência semelhantes, a grande diferença reside na sua capacidade de navegar e integrar esses estados. A analogia de “nadar” versus “afogar” ilustra que o místico possui controle, propósito e um resultado benéfico, enquanto o psicótico vivencia angústia, desorientação e consequências negativas. Essa diferença crucial se deve, em grande parte, à falta de contexto, apoio cultural e ferramentas de integração para o indivíduo em crise. A psicóloga Eleanor Longden reforça essa ideia, propondo que vozes e visões podem ser partes dissociadas do eu, representando emoções e memórias não resolvidas que precisam ser compreendidas e reintegradas de forma compassiva.
O Papel das Frequências e do Inconsciente
A ciência e a espiritualidade se entrelaçam na tentativa de explicar esses fenômenos. O pesquisador Itzhak Bentov sugeriu que o despertar da Kundalini pode levar à ativação de áreas cerebrais adormecidas, resultando em uma “percepção imensamente expandida”. Ele descobriu que, durante a meditação, o corpo estabelece um micromovimento rítmico de 7 Hz, uma frequência que se alinha com as pulsações magnéticas da Terra (Ressonâncias Schumann, cerca de 7,83 Hz) e com as ondas cerebrais humanas. Michael Persinger e Robert O. Becker corroboram essa visão, indicando que o cérebro, como um órgão bioelétrico, é extremamente sensível a esses campos eletromagnéticos, e a perturbação dessa sintonia pode levar a estados de “loucura”.

O psiquiatra Carl G. Jung ofereceu uma perspectiva profunda, vendo as experiências incomuns como manifestações genuínas do inconsciente coletivo. Ele acreditava que em estados de consciência rebaixada (como na esquizofrenia), as defesas do ego enfraquecem, permitindo que os arquétipos universais inundem a mente. Esses arquétipos, embora moralmente neutros, podem ser percebidos como positivos ou negativos, dependendo da capacidade do indivíduo de integrá-los à sua personalidade consciente. Feridas profundas causadas por traumas podem, paradoxalmente, abrir um portal para essas realidades espirituais, mas um ego fraco pode ser “possuído” por um arquétipo, resultando em visões e delírios distorcidos.
Reintegração e o Potencial Humano
A integração é o processo essencial para processar e incorporar experiências desafiadoras. Isso envolve:
- Práticas de aterramento: Exercícios de respiração, tempo na natureza e manutenção de uma rotina estável para reconectar-se ao corpo.
- Compreensão simbólica: Escrever sobre as experiências para dar sentido a elas, identificando temas e símbolos arquetípicos.
- Retomada de práticas espirituais: Meditação e oração de forma controlada e fundamentada.
O filósofo Terence McKenna sugeriu que nossa linguagem limita nossa capacidade de compreender a totalidade da realidade, e a desorganização do pensamento na psicose pode ser vista como uma tentativa de expressar o “indizível”. Explorar essas perspectivas nos permite expandir nossa compreensão do que significa ser humano e do potencial inerente aos estados alterados de consciência, uma jornada contínua e desafiadora para a própria consciência.
Leitura:
– Carl G. Jung (1959). The archetypes and the collective unconscious.
-Robert D. Laing (1965). The divided self: An existencial study in sanity and madness.
– Itzhak Bentov (1977). Stalking the wild pendulum.
-Persinger, M. A. (1985). Geophysical Variables and Behavior. Intense Paranormal Experiences Occur during Days of Quiet, Global, Geomagnetic Activity.
-Robert O. Becker & Gary Selden (1987). The body electric: Electromagnetism and the foundations of life.
-Stanislav Grof (1989). Spiritual emergency: When personal transformation becomes a crisis.
-Terence Mckenna (1989). True hallucinations.